Friedrich Wilhelm Heinrich Alexander von Humboldt, o
barão de Humboldt (
Berlim,
14 de setembro de
1769 — Berlim,
6 de maio de
1859), mais conhecido como
Alexander von Humboldt, foi um
geógrafo,
naturalista e
explorador alemão [1]. Foi o irmão mais jovem do ministro e
lingüista prussiano Wilhelm von Humboldt.
Biografia
Alexander von Humboldt foi um cientista de uma polivalência que
poucas vezes se observou e, haja vista como a ciência se desenvolveu e
especializou, certamente não mais será vista. Ele desenvolveu (e se
especializou em) diversas áreas: foi
etnógrafo,
antropólogo,
físico,
geógrafo,
geólogo,
mineralogista,
botânico,
vulcanólogo e
humanista, tendo lançado as bases de ciências como a
Geografia,
Geologia,
Climatologia e
Oceanografia. Apesar de ter pesquisado diversas coisas em seus mínimos detalhes, sempre o fez com uma visão geral e imparcial.
Com quatorze anos de idade, fixou-se em
Berlim para continuar seus estudos e, mais tarde, frequentou as universidades de
Frankfurt (Oder) e
Göttingen, onde cursou
Filosofia,
História e
Ciências Naturais.
Em 1789, com apenas vinte anos de idade, fez sua primeira viagem de caráter científico, passando pelos
Países Baixos,
Alemanha e
Inglaterra, e principalmente ao longo das margens do rio
Reno, seguindo
Georg Forster, um naturalista que acompanhou o
Capitão Cook em sua viagem ao redor do mundo. O resultado de toda essa exploração científica foi uma obra intitulada
Observações Sobre os Basaltos do Reno.
Sua viagem exploratória pela
América Central e
América do Sul (1799-1804) e pela
Ásia Central (1829) tornaram-no mundialmente conhecido ainda antes da sua morte. Sua principal obra é o
Kosmos, uma condensação do conhecimento científico de sua época. Sua obra
Ansichten der Natur também foi bastante popular.
Sua correspondência científica com colegas cientistas compõe-se de 35
mil cartas, das quais aproximadamente 12 500 estão arquivadas.
Além das ciências naturais, foi também um influente
mecenas da
Literatura. Humboldt apoiou os poetas e escritores
Heinrich Heine,
Ludwig Tieck e
Klaus Groth. Entre seus amigos e conhecidos estavam
Matthias Claudius,
Carl Friedrich Gauss,
Jacob e
Wilhelm Grimm,
August Wilhelm Schlegel, assim como
Johann Wolfgang von Goethe e
Friedrich Schiller.
Introdução
Breve descrição das viagens de Humboldt
Entre 1799 e 1804, von Humboldt viajou pela
América do Sul, explorando-a e descrevendo-a pela primeira vez de um ponto de vista científico. Nos cinco volumes da sua obra
Kosmos, ele tentou elaborar uma descrição física do mundo. Humboldt apoiou (e colaborou com) outros cientistas, entre os quais
Justus von Liebig e
Louis Agassiz.
Espécies e lugares denominados em homenagem a Humboldt
Como resultado de suas explorações, von Humboldt descreveu diversos
aspectos geográficos e espécies que eram até então desconhecidos dos
europeus. Espécies denominadas em sua homenagem incluem:
Aspectos e acidentes geográficos denominados em sua homenagem incluem a
corrente de Humboldt, o
rio Humboldt, a cadeia de montanhas
East and West Humboldt Range, os condados estado-unidenses de
Humboldt County, na
Califórnia, e
Humboldt County, no
Iowa e o parque Humboldt no lado oeste de
Chicago. Além disso, o mar
lunar Mare Humboldtianum foi assim denominado em sua homenagem, bem como o
asteroide 54 Alexandra.
A Fundação Alexander von Humboldt
Após sua morte, seus amigos e colegas criaram a
Fundação Alexander von Humboldt (
Stiftung em
alemão) para manter o generoso apoio de Humboldt a jovens cientistas. Apesar de a dotação inicial ter se perdido durante a
hiperinflação alemã dos
anos vinte, e novamente após a
Segunda Guerra Mundial,
a fundação tem recebido apoio do governo alemão e tem um papel
importante na atração de pesquisadores estrangeiros à Alemanha,
possibilitando também a pesquisadores alemães trabalharem no estrangeiro
por um determinado período.
Vida e Viagens de Hulboldt
Juventude e educação
Último retrato de Alexander von Humboldt, de Julius Schrader (1859). Ao fundo o Chimborazo.
Com nove anos de idade, após a morte de seu pai, Alexander e seu
irmão Wilhelm, dois anos mais velho, são criados pela mãe, Maria
Elizabeth von Colomb, no
castelo de Tegel, nos arredores de Berlim.
O segundo tutor dos Humboldt, Gottlob Christian Kunth, tem um papel
importante na vida de Alexander. Ele transmite aos irmãos Humboldt
sólidas bases de
História,
Matemática e línguas. Alexander demonstra grande interesse pela
História natural.
Enquanto Wilhelm demonstra uma robusta constituição, grande
facilidade de aprendizagem e se orienta à alta função pública, Alexander
aprende com dificuldade, orientando-se para uma formação em Economia,
que ele estuda durante seis meses na universidade de
Frankfurt (Oder). Um ano mais tarde, em 25 de abril de 1789, ele se matricula na
Universidade de Göttingen.
Em Göttingen tem aulas de
física e
química com
G. C. Lichtenberg,
C. G. Heyne e
J. C. Blumenbach. Durante suas férias de 1789 ele deu uma demonstração de suas proezas posteriores em uma excursão científica que subiu o
Reno, que originou o estudo
Mineralogische Beobachtungen über einige Basalte am Rhein (Brunswick, 1790) (Observações mineralógicas sobre alguns Basaltos do Reno).
Alexander von Humboldt estudou ainda o
Comércio e línguas estrangeiras em
Hamburgo,
Geologia em
Freiberga com
A. G. Werner,
Anatomia em
Jena com
J. C. Loder,
Astronomia e o uso de instrumentos científicos com
F. X. von Zach e J. G. Köhler. Suas pesquisas sobre a vegetação das minas de de Freiberg levaram à publicação, em 1793, do seu
Florae Fribergensis Specimen;
e os resultados de uma prolongada série de experiências sobre o
fenômeno da irritabilidade muscular, então recém descoberta por
Galvani, foram condensados no seu
Versuche über die gereizte Muskel- und Nervenfaser (Berlin, 1797), enriquecido de uma tradução
francesa com notas de
Blumenbach.
Viagens e trabalhos na Europa
Em 1794, ele foi admitido na intimidade da famosa sociedade de
Weimar, e desde junho de 1795 contribuiu ao novo periódico de
Schiller,
Die Horen, uma alegoria
filosófica intitulada
Die Lebenskraft, oder der rhodische Genius. No verão de 1790 fez uma visita rápida à
Inglaterra em companhia de
Forster. Em 1792 e 1797 esteve em
Viena; em 1795 realizou uma viagem de caráter geológico e botânico na
Suíça e na
Itália. Durante este tempo, obteve um posto público como assessor de Minas em Berlim, em 29 de fevereiro de 1792.
Diante da ignorância dos mineradores, que não sabem distinguir um
mineral de uma
rocha
sem valor, Humboldt abre uma escola de formação de mineradores, que ele
financia com seu próprio dinheiro. Ele recusará o dinheiro que o
Ministro von Heinitz lhe enviará para rembolsar suas despesas. Humboldt
realiza também pesquisas para melhorar a segurança das minas.
Apesar de o serviço público ser por ele considerado como um
aprendizado ao serviço da ciência, ele cumpriu suas tarefas com tanta
habilidade e zelo que não somente foi promovido a postos superiores no
seu departamento, como também recebeu diversas missões diplomáticas
importantes.
Em 1795, von Heinitz propõe a Humboldt o cobiçado posto de Diretor de Minas da
Silésia, no sudeste da
Prússia. Humboldt recusa e abandona o serviço público.
A morte de sua mãe, em 19 de novembro de 1796, deixa-o livre para
seguir seu destino, no que aguarda uma oportunidade de pôr em prática
seus planos de viagem.
A expedição pela América Latina
Chiranthodendron pentadactylon,
ilustração criada por Alexander von Humboldt.
O
almirante Louis Antoine de Bougainville, célebre navegador e explorador, propõe a Humboldt participar de uma expedição pela
América do Sul,
México,
Califórnia, através do
Pacífico, e depois ao
pólo Sul. Bougainville será substituído por
Baudin. Uma guerra com a
Áustria leva o
Diretório a anular a expedição.
O
botanista Aimé Bonpland
deveria, como Humboldt, participar da expedição de Baudin. Eles se
tornam amigos e decidem se juntar à expedição científica que segue as
tropas de
Napoleão no
Egito. O barco que deveriam tomar jamais aportou em
Marselha, aonde eles tinham ido para esperá-lo. Decidem, então, ir para a
Espanha para embarcar em um navio para
Esmirna. Durante as seis semanas de viagem, Humboldt realiza meticulosas medidas
geográficas.
Humboldt é apresentado ao rei e à rainha da Espanha, obtendo um
passaporte com o selo real, que garante aos viajantes a assistência das
autoridades que eles encontrarem. Bonpland torna-se oficialmente
secretário de Humboldt. Os dois são os primeiros a efetuar uma
exploração científica digna deste nome. A ambição de Humboldt durante
essa viagem às Américas é
descobrir a interação das forças da Natureza e as influências que o ambiente geográfico exerce sobre a vida vegetal e animal. Com essas poderosas recomendações, eles embarcam no
Pizarro na
Corunha em 5 de junho de 1799.
Durante a navegação, Humboldt efetua medidas
astronômicas,
meteorológicas, de
magnetismo, de
temperatura e de composição
química do mar.
Fazem uma escala de seis dias em
Tenerife para a ascensão do pico do
Teide e aterram em
Cumaná (Venezuela) em 16 de julho. Lá, na noite de 11-12 de novembro, Humboldt observa uma extraordinária chuva de
meteoros
(as Leônidas), que constitui o ponto inicial da nossa percepção da
periodicidade do fenômeno; depois disso, ele segue com Bonpland para
Caracas. Na América, sente uma revolta pela maneira com que se vendem e se avaliam os
escravos, mesmo se é nas possessões espanholas onde eles são mais bem tratados.
Em fevereiro de 1800 ele deixa a costa com o intuito de explorar o curso do rio
Orinoco.
Essa viagem, que durou quatro meses e cobriu mais de 2750 km de uma
terra inabitada, selvagem e inóspita, teve como resultado a descoberta
da existência de uma comunicação entre os sistemas
hidrográficos do Orinoco e do
rio Amazonas, (o
canal Casiquiare, que liga o Orinoco ao Amazonas), e a determinação exata do ponto de bifurcação. Humboldt e Bonpland não são os primeiros
europeus
a tomar essa rota, mas o rigor dos seus dados e das descrições que
realizaram fez com que não existissem mais dúvidas sobre a existência de
uma passagem navegável entre os dois rios.
Recolhem diversos espécimens de animais e plantas desconhecidos, e
Humboldt anota meticulosamente a temperatura do rio, do solo e do ar,
assim como a
pressão atmosférica, a inclinação magnética, a
longitude e a
latitude. Em
Calabozo, algumas
enguias
elétricas foram capturadas por Alexander von Humboldt (com Aimé
Bonpland) por volta de 19 de março de 1800. Os pesquisadores receberam
choques elétricos violentos durante suas experiências.
Em 24 de novembro os dois amigos partem para
Cuba, e depois de uma estadia de alguns meses retornam para
Cartagena.
Humboldt descobre que Baudin deixou a França e deve chegar em
Lima, no
Peru. Para evitar a ausência dos
alíseos, Humboldt e Bonpland decidem continuar por via terrestre ao longo dos
Andes,
passando doze meses em altitude através dos vulcões. Eles têm os pés em
sangue, mas recusam fazer como a aristocracia local: serem
transportados em cadeiras fixas nas costas de índios.
Subindo o curso do
Magdalena, e atravessando os picos gelados dos Andes, chegam em
Quito depois de um dia difícil em 6 de janeiro de 1802. Durante essa estada, escalaram o
Pichincha e o
Chimborazo, e terminaram em uma expedição às fontes do Amazonas a caminho de
Lima, onde chegam em 22 de outubro de 1802.
Humboldt ganha um renome mundial ao escalar o Chimborazo, pico considerado na época como o mais alto do mundo.
Em
Callao, Humboldt observa o trânsito de
Mercúrio em 9 de novembro, e estuda as propriedades fertilizantes do
guano, cuja introdução na Europa muito se deveu às suas obras. Uma viagem tumultuada, sob uma tempestade, levou-os para o
México, onde residiram durante um ano.
Humboldt e seus companheiros passaram o ano de 1803 a percorrer o
México. Humboldt escreverá seu
Ensaio político sobre o reino da Nova Espanha, o primeiro ensaio geográfico regional, no qual ele relata sumariamente suas viagens. No México, estuda o
calendário azteca.
Ele embarca em seguida para a
Havana, a fim de recuperar suas coleções lá depositadas havia mais de três anos.
Passagem pelos Estados Unidos
Estimando seu dever saudar o presidente
Thomas Jefferson, Humboldt prolonga sua viagem e vai para a
Filadélfia, até pouco capital do país, onde é acolhido pela Sociedade americana de Filosofia, criada sobre o modelo da
Royal Society
de Londres. Humboldt passa a maior parte do seu tempo com os membros da
sociedade. Bonpland e Montufar, não falando o inglês, têm um papel de
figurantes. Humboldt encontra Jefferson, com quem discute sobre história
natural, costumes diferentes de acordo com o país e as maneiras de
melhorar o nível de vida. Os dois homens se entendem tão bem que
Jefferson convida Humboldt a passar sua estadia na Filadélfia na casa
dele.
Eles zarparam para a Europa na embocadura do
Delaware, chegando em
Bordeaux em 3 de agosto de 1804.
Resultados da expedição latino-americana
A expedição de Humboldt e Bonpland, com uma duração de cinco anos,
custou a Humboldt o terço de suas economias. Foi uma das mais notáveis
expedições científicas de todos os tempos, com uma massa de dados de um
valor científico inestimável, ainda mais valiosa que os espécimens que
eles puderam recolher.
Humboldt e Bonpland percorreram, durante sua expedição através das
Américas, um total de 9650 km, tanto a pé, como a cavalo ou em canoas. A
expedição atravessou as terras dos atuais
Venezuela,
Colômbia,
Equador,
Peru,
Cuba e
México (foi impedido de permanecer no
Brasil,
pois os portugueses consideraram-no um possível espião alemão, após
encontrarem-no em terras brasileiras perto da fronteira venezuelana). A
característica que torna essa expedição absolutamente excepcional é que
ela foi levada a cabo sem nenhum interesse comercial; sua única
motivação foi o desejo de conhecimento e a curiosidade.
Durante sua expedição pelas Américas de 1799 a 1804, ele precisou
latitudes e longitudes, melhorou mapas, identificou 60000 plantas, das
quais 6300 até então desconhecidas, desenvolveu a geografia das plantas e
descreveu a corrente que levou mais tarde seu nome (
corrente de Humboldt).
Graças à sua excepcional expedição, Humboldt pode ser considerado
como tendo lançado as bases das ciências físicas da geografia e da
meteorologia. Pelo seu estudo (em 1817) das
isotermas,
ele sugeriu a ideia e entreviu os métodos de comparação das condições
climáticas de vários países. Ele primeiramente investigou a taxa de
decaimento da temperatura média com o aumento da altitude acima do nível
do mar, e forneceu, pelas suas questões e pesquisas sobre a origem das
tempestades tropicais, a primeira pista para a detecção da lei, mais
complicada, governando as perturbações atmosféricas em altas latitudes.
Seu ensaio sobre a geografia das plantas foi baseado na (então) recente
ideia de estudar como as condições físicas variadas alteram a
distribuição da vida
[2]. Sua descoberta da diminuição da intensidade do
campo magnético
terrestre dos pólos ao equador foi comunicada ao Instituto de Paris em
uma dissertação por ele lida em 7 de dezembro de 1804, e sua importância
foi atestada pelo rápido surgimento de reivindicações rivais. Seus
serviços à Geologia basearam-se principalmente no seu atento estudo dos
vulcões
do Novo Mundo. Ele mostrou que eles se classificavam naturalmente em
grupos lineares, presumidamente correspondendo a vastas fissuras
subterrâneas; e, pela sua demonstração da origem ígnea de rochas cuja
origem era anteriormente considerada aquosa, ele contribuiu imensamente
para a eliminação dessas hipóteses errôneas.
A condensação e a publicação da massa enciclopédica de materiais -
científicos, políticos e arqueológicos - coletados por ele durante sua
ausência da Europa eram a sua preocupação mais urgente. Antes de se
atacar a essa tarefa gigantesca, no entanto, fez uma rápida visita à
Itália com
Gay-Lussac com o intuito de investigar a lei da declinação magnética, e uma estadia de dois anos e meio na sua cidade natal.
Aclamação de Humboldt
Com exceção de
Napoleão Bonaparte,
Humboldt era então o homem mais famoso da Europa. Aplausos acolhiam-no
em todos os lugares aonde ia. Academias, nacionais e estrangeiras,
estavam ansiosas para tê-lo entre seus membros.
Em janeiro de 1808, Humboldt é enviado a
Paris
pelo rei da Prússia, acompanhado pelo príncipe Wilhelm, para tentar
negociar uma diminuição o valor das indenizações de guerra. Desde que a
França invadiu a Prússia, Humboldt não recebe mais as rendas de seus
domínios. Ele vive em Paris em um quarto mobiliado, que divide com
Gay-Lussac, não dormindo mais do que três ou quatro horas por dia. Em
Paris, ele tem a firme intenção de assegurar a cooperação científica
necessária para publicar seu grande trabalho. Essa tarefa colossal, que
ele inicialmente estimou em dois anos, acabou durando 22 anos, e ainda
assim ficou incompleta.
Ele é espionado pela polícia francesa, pois é alemão e sua
correspondência privada reflete as opiniões políticas dos salões
parisienses. Humboldt escreve entre mil a duas mil cartas por ano. Acaba
passando dezoito anos em Paris, durante os quais publica seu
Voyage interminable sur l'Amérique du Sud (Viagem interminável pela América do Sul).
Em 1826 recebe uma carta do rei da Prússia ordenando-o de deixar
Paris. Ele pode somente passar 4 meses de férias por ano na cidade-luz.
Em Berlim, Humboldt é aparentemente detestado por suas ideias liberais.
Em 1828 obtém bastante sucesso ao dar cursos na universidade e, mais tarde, conferências diante de um público mais vasto
[3].
Em Berlim, a comunidade científica não costumava realizar reuniões
científicas, como era o caso de Paris, para a confrontação e discussão
de ideias. Humboldt organiza uma reunião da Associação Científica em
Berlim à qual participam 600 dos mais renomados cientistas.
Explorações na Rússia
Em 1827, o ministro russo das finanças pede a Humboldt sua opinião sobre a emissão de moedas de
platina. Como o preço da platina era instável, Humboldt se mostra desfavorável à ideia e sugere ir estudar as minas dos
Urais. Em março de 1829, ano dos seus 60 anos, Humboldt viaja para a
Rússia, com as despesas pagas pelo imperador, com
Gustave Rose, professor de química e de mineralogia,
C.G Ehrenberg, naturalista e zoólogo, e um empregado doméstico. Na
Rússia, ele é acolhido como uma importante personalidade oficial. Ele tem suas refeições com a família do
czar. Ao deixar
Moscou, juntam-se à expedição responsáveis da indústria mineira e burocratas das autoridades locais.
Humboldt passa um mês estudando as minas dos Urais. Graças à presença
de filões de platina e de areias auríferas, ele prediz a existência de
diamantes nos Urais. Humboldt e Rose investigam cada jazida de
ouro que encontram no
microscópio.
Foi o conde Polier, proprietário de tais jazidas, e a quem Humboldt
explicou sua teoria, que encontrou o primeiro diamante dos Urais.
A expedição atravessa a
Sibéria até o
Altai.
Como de hábito, Humboldt realiza medições barométricas. Humboldt e seus
companheiros retornam após seis meses de expedição e após terem
percorrido aproximadamente 17000 km. Humboldt estudou e simulou a
colocação de uma rede de estações magnéticas e meteorológicas fazendo
observações regulares e funcionando com aparelhos idênticos. Ele deixa
aos cuidados de Rose e Ehrenberg a publicação dos resultados da
expedição. Será somente anos mais tarde que será publicado seu
Ásia Central (em três volumes).
Humboldt como diplomata
Entre 1830 e 1848, Humboldt foi frequentemente empregado em missões diplomáticas à corte de
Luís Filipe I, com quem mantinha relações pessoais cordiais. A morte de seu irmão,
Wilhelm von Humboldt,
que morreu nos seus braços em 8 de abril de 1836, entristeceu os
últimos anos de sua vida. Ao perder o irmão, Alexander lamentou ter
"perdido uma metade de si mesmo." A ascensão ao trono do príncipe
Frederico Guilherme IV,
após a morte de seu pai em junho de 1840, aumentou o seu favoritismo na
corte. O novo rei solicitava-o frequentemente como conselheiro da
corte. Humboldt utiliza sua função de conselheiro privado do rei para
militar pela emancipação dos judeus e pela abolição do servilismo na
Prússia, enquanto que o rei o utiliza como enciclopédia ambulante. A
popularidade de Humboldt permanece grande, apesar das inimizades que ele
adquire junto aos reacionários próximos do rei. Em 1857, a
loucura que afeta o rei permite a Humboldt ter mais tempo para seus trabalhos.
Em 1852, Humboldt recebe a medalha Copley da
Royal Society de
Londres.
O "Kosmos"
Não é frequente que um homem adie aos seus 76 anos, e então execute
com sucesso, a coroação da obra da sua vida. No entanto, foi este o caso
de Humboldt. Os primeiros dois volumes do
Kosmos foram publicados, e basicamente elaborados, entre os anos 1845 e 1847.
A ideia de um trabalho que deveria comunicar não somente uma
descrição gráfica, mas principalmente uma concepção engenhosa do mundo
físico que pudesse ser generalizada por detalhes e ressaltar detalhes
através da generalização preenchia seu espírito havia mais de meio
século. Tomou uma forma definida pela primeira vez em uma série de
conferências por ele proferidas na universidade de Berlim, no inverno de
1827-1828. Essas conferências constituíram, como nota seu último
biógrafo, "o esboço para o grande afresco do
Kosmos". O objetivo
desta obra notável pode ser brevemente descrito como sendo a
representação da unidade no meio da complexidade da Natureza. Nessa
obra, os grandes e vagos ideais do
século XVIII são recuperados e combinados com as necessidades científicas do
século XIX.
Apesar de inevitáveis imperfeições, a tentativa foi eminentemente
bem-sucedida. Um estilo um pouco pesado e um tratamento às vezes
pitoresco demais tornam a obra mais imponente que atraente ao leitor
casual. Mas seu valor supremo consiste no fato de representar fielmente o
reflexo da mente de um grande homem. Não existe maior elogio que possa
ser feito a Alexander von Humboldt do que dizer que, ao tentar, e não em
vão, representar o universo, ele conseguiu de maneira ainda mais
perfeita representar a sua própria inteligência compreensiva.
A última década de sua longa vida - seus anos "improváveis", como ele
custamava chamá-los - foi dedicada à continuação da sua obra, cujos
terceiro e quarto volumes foram publicados em 1850-1858, e um fragmento
de um quinto postumamente em 1862. Nestes volumes, ele procurou detalhar
de acordo com os ramos das ciências o que expusera de maneira geral no
primeiro volume. Não obstante seu alto valor individual, é preciso
admitir que, de um ponto de vista artístico, essas adições foram
deformações. A ideia característica da obra, na medida em que uma ideia
tão gigantesca pudesse ser transposta em forma literária, havia sido
completamente desenvolvida nas suas partes iniciais, e a tentativa de
transformá-la em uma enciclopédia científica foi na verdade uma negação
da sua motivação inicial.
O trabalho e a precisão de Humboldt nunca foram mais visíveis do que
durante a concepção deste último troféu à sua genialidade. Tampouco
apoiou-se somente em seus próprios trabalhos; deveu grande parte do que
conseguiu à sua rara capacidade de assimilar ideias e aproveitar a
cooperação de terceiros. Humboldt estava tão pronto a receber
reconhecimento quanto a dá-lo. As notas do
Kosmos são repletas de citações loquazes onde ele, de certa maneira, reconhece suas "dívidas" intelectuais.
Doença e morte
Alexander von Humboldt em 1857
Em 24 de fevereiro de 1857 Humboldt teve uma crise de
apoplexia
leve, que não deixou traços perceptíveis. Foi somente durante o inverno
de 1858-1859 que suas forças começaram a diminuir, e, em 6 de maio, ele
morreu tranqüilamente, seis meses antes de completar seus noventa anos.
As honras que lhe foram reservadas durante sua vida seguiram-no
após sua morte. Seus restos mortais, antes de serem enterrados no
mausoléu
familiar de Tegel, foram transportados em funerais nacionais pelas ruas
de Berlim, e recebidos pelo príncipe regente, a cabeça descoberta, na
porta da catedral. O primeiro centenário de seu nascimento foi celebrado
em 14 de setembro de 1869, com igual entusiasmo no Novo e Velho Mundo, e
os numerosos monumentos erigidos e as novas regiões descobertas
denominadas em sua honra testemunham a difusão universal de sua fama e
popularidade.
Contribuições de Hulboldt à ciência
Os textos sul-americanos de Humboldt compreendem trinta volumes
publicados em trinta anos. Compõem-se de livros científicos, atlas,
tratados de geografia e economia sobre Cuba e o México, uma narrativa de
suas viagens e um
Examen critique de l'histoire de la géographie du Nouveau Continent
(Exame crítico da história e da geografia do novo continente). Humboldt
escreveu seus textos científicos em colaboração com outros cientistas.
Dedicou o volume consagrado à geologia a seu amigo
Goethe. Em seu
Kosmos,
cujo objetivo era de comunicar a excitação intelectual e a necessidade
prática da pesquisa científica, ele descreve em cinco volumes todos os
conhecimentos da época sobre os fenômenos terrestres e celestes.
Atribui-se a Humboldt a invenção de novas expressões como
isodinâmicas,
isotermas,
isóclinas,
jurássico e
tempestade magnética. Ele lançou as bases da
geografia física e da
geofísica, notadamente da
sismologia. Ele demonstra que não pode haver conhecimento sem experimentação verificável.